segunda-feira, 29 de março de 2010

Assistente Social tem de ser comprometido

Profissional fala sobre a busca dos direitos do cidadão.
Ser crítico e estimular a participação da sociedade é um dos aspectos da carreira.

O comprometimento com os direitos da população faz de Rodriane de Oliveira Souza, 32 anos, uma apaixonada por serviço social. Integrante do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e docente da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, ela não abandona a atividade na área. Atualmente, Rodriane é assistente social no Centro Municipal de Reabilitação Oscar Clark, no bairro do Maracanã, na Zona Norte do Rio, e vai em busca dos direitos de pessoas com deficiências (que tiveram partes do corpo amputadas, devido a conseqüências de diabetes, por exemplo). Mas não é só de saúde que ela cuida. Para promover a qualidade de vida da população, cabe ao assistente social tratar do usuário como um todo, contemplando, inclusive, suas dificuldades econômicas e formas de superá-las. Veja a entrevista concedida ao G1:

G1 - Como você escolheu o curso e onde estudou?
Rodriane de Oliveira Souza – Escolhi o curso na época em que fazia estágio do curso de formação de professores, no ensino médio. Tive meu primeiro contato com uma assistente social que trabalhava com as famílias de crianças que estudavam em uma creche. Comecei a me interessar por serviço social quando percebi que ela tinha uma interação com as famílias e com as crianças, às vezes mais significativa do que a dos próprios educadores. Foi aí que fui fazer o vestibular e acabei por fazer a graduação na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

G1 – Como é o seu trabalho?
Rodriane – O trabalho do assistente social é orientar a população em relação a seus direitos. Um profissional precisa compreender o usuário na totalidade; não pode ter uma visão fragmentada. Trabalho em uma unidade de saúde para reabilitação de pessoas com deficiências, onde é preciso discutir as várias dimensões da sua vida social como a questão da acessibilidade, da sua alimentação, educação, trabalho... O assistente social vai pensar junto com ela quais são os caminhos, os direitos, as possibilidades de ter uma vida com o máximo de qualidade possível.

G1 – Como é o salário da profissão?
Rodriane – Hoje, a gente vive uma realidade de prefeituras e ONGs que não remuneram o assistente social devidamente, considerando o processo de trabalho que a gente desenvolve. A gente trabalha com uma população de todos os níveis socioeconômicos, mas principalmente com situações de extrema pobreza, e as demandas que nos trazem acabam nos provocando um certo sofrimento mental.

G1 – Quais são as oportunidades na profissão?
Rodriane – Também há concursos, algumas prefeituras e empresas privadas ou públicas que vêm apontando uma certa elevação salarial. Costumo dizer que assistente social batalha muito. Se for comprometido e buscar qualificação é possível conseguir um trabalho com boa remuneração.

G1 – Qual o maior desafio que você enfrentou na profissão?
Rodriane – A gente vive um dia-a-dia cheio de impasses e desafios. Uma das grandes dificuldades é que várias pessoas não conseguem perceber qual o resultado do trabalho. Um arquiteto faz uma casa; um médico, uma cirurgia. E qual o resultado do trabalho do assistente social? São as alterações na qualidade de vida do usuário, que se expressam no acesso de benefícios sociais e nas mudanças de comportamento, de valores.

G1 – Você é satisfeita com a carreira?
Rodriane - Sou bastante apaixonada pelo que faço. Consigo ver o produto do meu trabalho e discordo de qualquer um que diga que não há resultado.

G1 – Qual o perfil que deve ter alguém que vá cursar serviço social?
Rodriane - Tem de ser uma pessoa criativa e crítica, porque a gente vive numa sociedade na qual as pessoas são criadas para concordar com tudo e abaixar a cabeça. É preciso estimular o questionamento e incentivar a participação das pessoas nos espaços decisórios, além de ser comprometido com os direitos da população. A atitude investigativa é fundamental no nosso cotidiano, pois precisamos conhecer a realidade que com trabalhamos para fazermos uma intervenção qualificada.

G1 – Como é o dia-a-dia do assistente social?
Rodriane - O assistente social não fica parado. Não podemos apenas ficar atendendo sentada atrás de uma mesa. Mas, no dia-a-dia, o assistente social tem de fazer atendimentos individuais ou à família, trabalha também com grupos, oficinas, palestras. Daí a habilidade de falar em público a ser desenvolvida. Outro investimento a ser feito é com relação a aliança com outros profissionais, inclusive com a direção da instituição. O profissional se coloca mediando interesses entre a população e a instituição, mas nossa opção precisa ser pelos direitos da população usuária.

G1 – E o trabalho é só dentro da instituição?
Rodriane – Não. Faço visitas domiciliares para conhecer a condição de vida de quem procura a reabilitação. Faço visitas para articulação com outras instituições. Outras vezes, a gente faz visitas institucionais para mediar situações específicas de usuários, por exemplo, quando uma criança com deficiência não recebe a devida atenção da escola. Daí, vamos discutir com os professores a necessidade de acolhimento a essa criança, para fazer valer o direito à educação inclusiva.

sábado, 20 de março de 2010

Assistência Social e Assistencialismo

Assistência Social e Assistencialismo: entenda a diferença entre essas duas ações,ainda muito confundidas pelo senso comum.

Muito e muitos falam de assistência social. Essa expressão, como a própria coordenadora da seccional Juiz de Fora do Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais (CRESS), Cris do Vale afirma, ainda é motivo de muita confusão no que diz respeito ao seu verdadeiro significado.

Ao contrário do que o senso comum difunde, a palavra assistência social não se resume a idéia de ajuda ou benesse.

A assistência social, foi regulamentada em lei no ano de 1993. A partir dessa data, ficou instituído que todos possuem o direito ao benefício. Ou seja, ela é uma política pública de atenção e defesa dos direitos. E são várias as áreas que podem trabalhar com a sua garantia: desde psicólogas, enfermeiras, até assistentes sociais e comunicadores.

A assistência, então, entendida dessa forma, extrapola o sentido do assistencialismo, da doação de algo ou prestação de serviço a alguém. Como explica Cris, ela é destinada à população mais vulnerável, com o objetivo de superar exclusões sociais, defender e vigiar os direitos da cidadania e da dignidade humana. E não pode ser entendida como uma ajuda, que é o princípio fundamental do assistencialismo e voluntariado.

Quem pratica o voluntariado, que tem bases no assistencialismo, atende alguém que está necessitado. Para a coordenadora da seccional do CRESS em Juiz de Fora, as atividades de uma assistente social, por exemplo, que tem como área de intervenção a assistência social, mais que atender, formula políticas e programas, analisa dados, coordena programas e planeja atos futuros com os dados que lhe estão a mão.

Um exemplo prático criado por Cris do Vale para exemplificar a diferença de assistencialismo e assistência social: um ex-morador de rua arruma um emprego. Pelo que se imagina, apesar de ter saído da rua e estar de vida nova, é possível que ele continue a gastar seus primeiros salários como se estivesse morando na rua, visto que ainda um trabalho de reeducação ainda não foi implementado nele. Imaginemos que ele caia e quebre os dentes.

Praticar assistência social, nesse caso, é analisar e trabalhar sua mudança, agindo com ele de forma a ajudar que ele, sozinho, encontre suas saídas e controle o seu dinheiro para arrumar seus dentes por ele mesmo. Praticar assistencialismo é dar um novo tratamento dentrário pra ele, o que para Cris, não vai ajudá-lo a mudar, a refletir sobre suas ações.

Definições que geram confusões
• Assistencialismo:É um acesso a um bem através de doação ou de serviço prestado individualmente. Está ligado ao voluntariado

•Assistência Social: Política pública de atenção e defesa de direitos, e é regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).

•Serviço Social: É uma profissão que atua no campo das políticas sociais, entre elas, a assistência social.

Para Cris do Vale, essa confusão ainda existe porque a assistência social teve suas primeiras pegadas no assistencialismo. "Primeiro vieram as ações, para depois vir a regulamentação", complementa.

Para a cordenadora da Seccional de Juiz de Fora a vantagem da assistência social ter se transformado em um direito, em 1993, está no fato de que os governantes agora possuem obrigação, compromisso com as pessoas que não são absorvidas pelos empregos ofertados, por exemplo.

Fonte: Fernanda Leonel - Repórter